Avaliação do Risco Cardiovascular em Pessoas Vivendo com HIV: Uma Revisão Narrativa

Resumo

A terapia antirretroviral (TARV) eficaz transformou a infecção pelo HIV em uma condição crônica, resultando em um aumento da prevalência de doenças não transmissíveis, notadamente as doenças cardiovasculares (DCV). Pessoas vivendo com HIV (PVHIV) apresentam um risco aumentado de eventos cardiovasculares adversos maiores (ECAM), como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral, que persiste mesmo após o controle de fatores de risco tradicionais. Essa vulnerabilidade é multifatorial, impulsionada por uma interação complexa entre a inflamação crônica e a ativação imune persistente induzida pelo próprio vírus, os potenciais efeitos de certas classes de antirretrovirais e uma maior prevalência de fatores de risco convencionais, como dislipidemia, hipertensão, diabetes mellitus e tabagismo. Biomarcadores de inflamação e coagulação, incluindo proteína C-reativa de alta sensibilidade (PCR-as), interleucina-6 (IL-6), D-dímero e fosfolipase A2 associada à lipoproteína (Lp-PLA2), estão consistentemente elevados em PVHIV e associados ao risco de DCV. Intervenções de prevenção primária, especialmente com estatinas, demonstraram eficácia robusta. O ensaio REPRIEVE evidenciou que a pitavastatina reduz significativamente o risco de ECAM em PVHIV com risco cardiovascular baixo a moderado. Outras estatinas, como a rosuvastatina e a atorvastatina, também mostraram benefícios na redução de marcadores de inflamação vascular e ativação imune. A gestão do risco cardiovascular nesta população exige uma abordagem integrada que aborde tanto os fatores de risco tradicionais quanto os mecanismos patofisiológicos específicos do HIV, destacando a necessidade de estratégias de rastreio e prevenção proativas.